15.12.08

Diário de viagem - III

*
Terça-feira, 11 de novembro de 2008, 23h30

- Vocês estão procurando uma cachaçaria?

De fato, nós estávamos em busca de uma cachaçaria. Nós éramos, aliás, duas turistas em Ouro Preto procurando uma cachaçaria no meio da noite. Alguém no bar em frente havia dito: “nessa ruazinha aqui tem uma”, e quando estávamos a dois passos de entrar na tal cachaçaria, alguém gritou “Ei!” e veio correndo na nossa direção. Era baixinho, moreno, e tinha cabelos na altura do ombro.

- Eu conheço uma cachaçaria ótima! Posso levar vocês até lá.

Eu olhei pra Manu desconfiada, mas ela me olhou com curiosidade.

- Não precisa, não. A gente vai nessa aqui mesmo. Obrigada – eu disse, sorrindo polidamente.

- Mas a outra é bem mais legal. E é aqui pertinho. Eu levo vocês lá, vamos!

Olhei pra Manu com cara de “nem pensar”, mas ela me olhou com cara de “ué, de repente”.

- A que distância fica daqui, mais ou menos? – perguntou Manu, interessada.

- Ah... uns 100... 200 metros...

Fiz cara de “parece longe”, Manu de “parece perto”.

- Vamos, meninas! Vocês vão gostar!

Manu me olhou.

- Vamos?

Eu não queria ser antipática com moço tão solícito, nem anti-social na nossa primeira noite em Ouro Preto. Mas algo me dizia que nós não estávamos num filme do Woody Allen, não éramos duas americanas em Barcelona, e o rapaz, definitivamente, não tinha o poder de persuasão do Javier Bardem.

- Ok. Vamos. – eu disse.

E fomos. Ele se apresentou como “Joker Índio, o poeta de todas as ruas” e começou a falar euforicamente. Duas quadras depois, já estava recitando suas poesias (“que o nosso amor se eternize / nas suas varizes!”, declamava empolgado), e a gente ria, balançando a cabeça como quem diz “que figura, hein”. E fomos descendo, descendo, passamos por uma igreja do Aleijadinho, outra igreja do Aleijadinho, depois um cemitério, e as ruas foram ficando escuras e desertas, e mais escuras, e mais desertas, então eu comecei a interromper o falatório de Joker Índio numa mescla crescente de nervosismo/irritação: falta muito? onde é, afinal? logo ali onde??? ONDE???

Mas Joker Índio sorria confiante, situação dominada.

- Não se preocupem, meninas... Eu sei, vocês agora devem estar pensando naquele motoboy que matava mulheres em lugares escuros... Mas, ó, eu sou de confiança! Fiquem tranqüilas...

Ah, claro que ele é de confiança, pensei. Ele nunca diria que não é de confiança. Eu não havia pensado no tal motoboy, mas agora estava pensando, e muito. Prestes a penetrar com minha amiga e um desconhecido em mais um trecho escuro de mais uma ladeira, eu estaqueei.

- Manu, quero voltar.

Por sorte, Manu me olhou com cara de “eu também, eu também!” e consentiu na mesma hora. Mas Joker Índio se negou a aceitar a idéia.

- Mas mas... é logo ali! Falta tão pouquinho agora... Vamos!

- Olha, Joker Índio – eu disse, reunindo todo o meu tato diplomático – valeu a boa vontade, foi muita gentileza sua nos acompanhar, mas a sua cachaçaria é muito longe, e nós vamos voltar. Tchau.

- Nãããão! Não façam isso... Vamos, por favooor!

"Por favor"? Joker Índio parecia ter uma baixíssima tolerância a "nãos", mas "por favor" já era demais. Fui obrigada a dizer-lhe algo horrível. Olhei fundo dentro dos seus olhos e falei:

- Não insista.

Ele seguiu, inconformado, ladeira abaixo. Nós voltamos, apavoradas, mas vivas, Ouro Preto acima.


* * * * *


8.12.08

Diário de viagem - II

* * * * *
Sexta-feira, 28 de novembro de 2008, 14h30

- Embarque imediato pelo portão 8.

Lá vou eu outra vez. O filme que eu já vi, sendo reprisado na Sessão da Tarde da minha vida. A história se passa diante do portão de embarque do Aeroporto Salgado Filho. Gênero: drama. Participação especial da minha família. Essa doce criatura de pouco mais de um metro de altura, que sempre me abraça primeiro e por último, é a minha sobrinha. Esse bebê lindo que ganha beijos dormindo é o meu sobrinho. A que me abraça muitas vezes é a minha mãe. A que sempre me faz chorar, minha irmã. E não confundam: o que me abraça sério e forte é o meu pai; o que sorri e abraça suave é o meu sogro. Minha sogra é a que fala, sorri, quase chora, abraça suave, forte, tudo ao mesmo tempo.

Lá vou eu outra vez. Sozinha dessa vez. “Dá licença, por favor?”, alguém suplica, pois eu estou atravancando a porta de embarque. Abaixo pra falar com minha sobrinha, lhe dou beijos, conselhos, coma bastante, viu, estude, cuide bem do seu irmão. Ela dá tapinhas nas minhas costas e diz: “Tá bem, Dani. Agora vai, senão tu vai perder o avião.”

Lá vou eu. Outra vez. Para o embarque imediato pelo portão 8. O filme está acabando. A câmera enquadra a protagonista olhando pela janelinha. Uma lágrima escorre devagar. Sobe trilha.

Agora passa a paisagem
Agora não me despedi
Agora compro uma passagem
Agora ainda estou aqui


O avião toma velocidade e eu leio pela última vez PORTO ALEGRE. Fim.


* * * * *


3.12.08

Diário de viagem - I

* * * * *
Sábado, 29 de novembro de 2008, 17h

- Feestelijk inhalen aan Barcelona.

Era o comandante holandês da KLM dando as boas-vindas à cidade. Depois de sobrevoar o Mediterrâneo baixo demais pro meu gosto – apesar da belíssima vista de Barcelona que isso proporcionou a nós, passageiros em pânico – ele fez uma aterrissagem que, sem sombra de dúvidas, foi a pior pela qual já passei. Pousou meio de lado, as rodas tocaram o chão num estrondo, o ruído aumentando enquanto a aeronave tentava ser freada, aparentemente sem sucesso. Foram apenas alguns instantes, mas a diversidade de reações que brotaram de dentro de mim foi incrível: num segundo me apavorei, no outro procurei manter a calma; no outro resolvi checar só por garantia o comprimento da pista de pouso, no seguinte me agarrei tremendo à poltrona; na seqüência rezei, sei lá, pra Nossa Senhora Protetora dos Groovings e, por fim, pensava: “Essa merda não vai parar nunca, porraaaa?”.

Parou. No limite da pista, mas parou. Olhei pela janelinha do avião e vi ali escrito BARCELONA. Do canto esquerdo do olho direito escorreu uma lágrima, porque essa coisa de viajar me deixa sempre muito sensível. Corri pra esteira e peguei minha companheira obesa. Eu havia rezado muitas vezes para que ela não se perdesse de mim ao longo dessa viagem. Foram tantos lugares, ônibus, porta-malas, aeroportos. Minha última oração havia sido dedicada à Nossa Senhora dos Nada-a-Declarar, para que não cismassem comigo em Amsterdam e eu não precisasse em hipótese alguma abrir a mala, pois até feijão e goiabada tinha lá dentro (presentes irrecusáveis de minha mãe), fora a farmacodiversidade de causar sérias suspeitas em qualquer Setor de Imigração. Cápsulas e mais cápsulas de fitoterápicos, homeopatias, soluções hidroalcoólicas, remédios pra isso e remédios praquilo entre pacotes de feijão e goiabadas do Zaffari – como explicar essa mala de feirante hipocondríaca, em bom inglês, a um holandês loiro e alinhado?

Saí porta afora ansiosa, tentando reconhecer um rosto, apenas um rosto na multidão. Veio? Não veio? Atrasou? Onde está? Ali: sorriso maroto no rosto, casaco grosso de lã e um cartaz na mão escrito NEGUINHA. Tinha até esquecido como ele era alto e engraçado.


* * * * *


Sábado, 29 de novembro de 2008, 11h15

- Feestelijk inhalen aan Amsterdam.

Tive sorte. Foram 10 horas de vôo entre São Paulo e Amsterdam, e ninguém havia comprado o assento 22B, que ficava entre a suspirante e melancólica mulher da janelinha (no caso, eu, Sra. 22A) e o educado e gélido homem do corredor (ao que tudo indica, um holandês, Sr. 22C). Na chegada, ele percebeu meus ridículos esforços para colocar a bagagem de mão no abarrotado compartimento superior, que eu mal conseguia alcançar (nenhum holandês deve ter 1,60m, concluo), e disse gentilmente “I try”, ao que eu agradeci e aceitei prontamente. Aeromoças lindas, loiras e sorridentes passavam pra lá e pra cá, eu suspirei e disse bye bye Brasil, o avião decolou, eu não comi nada e não liguei a TV uma vez sequer durante toda a viagem. Não queria saber em que latitude e longitude estava, não queria assistir nenhuma comédia nova, nem jogar Tetris, nem comer suflê. Só queria dormir e lembrar. Ajustei o horário do meu iPod para GMT+1:00 Madrid e dei um play.

Hoy en mi ventana brilla el sol
Y el corazón
Se pone triste contemplando la ciudad
Porque te vas


Tive sorte. Eu só tinha coisas boas pra lembrar e nenhum cotovelo ao lado pra me cutucar. E quando o avião pousou em Amsterdam, de modo quase imperceptível, deslizando pela pista até parar suavemente, na melhor aterrissagem da minha vida, eu pensei: ah, esse é braço.


* * * * *


Cría Cuervos, Carlos Saura

Porque te vas, Jeannete

22.11.08

vida laboral

Future Shorts foi criado por 2 diretores de cinema
e que a cada sexta-feira publicam 2 curtas anonimos.
vale a pena conferir de vez em quando



31.10.08

Avant-première

Este é um momento único na história de los cutremetrajes.

Hoje, sexta-feira, 31 de outubro, El muerto al hoyo y el vivo al bollo será gentilmente projetado pela Casa Vasca (Euskal Etxea) de Barcelona.

E dá-lhe multiculturalidade: um curta de uma brasileira e uma argentina, produzido por catalães, sendo projetado pela primeira vez num centro cultural vasco.

Estaremos lá, felizes e contentes, recebendo equipe, atores, amigos, convidados e penetras para comer pintxos, beber txakolis e assistir juntos a essa fantástica cutre-produção.

Deixo aqui o cartaz de Mauricio Gravana com ilustrações incríveis do nosso querido amigo Eliandro Ramos.

Haja coração!


14.10.08

Making of, ficção e realidade

A história do filme se passa num velório, portanto, o encarregado de fazer as imagens do making of foi, claro, o próprio morto. Ninguém melhor que ele, que passou o dia deitado, numa boa, sem nenhum texto pra decorar, com sua câmera escondida dentro do caixão, para dar uma filmadinha entre uma toma e outra. Barbada.

Quer dizer, mais ou menos. O cara foi xingado pela mulher, agarrado pela amante, sacudido por um bêbado, quase espancado pelo genro, tudo isso sem poder rir e tendo que controlar a respiração. Passava calor, suava, ficava corado, tinha que maquiar de novo pra ficar convincentemente pálido. Uma função.

Além do mais - e isso ficamos sabendo só no dia da rodagem - anos atrás tinha sofrido um acidente horroroso, desses de ficar entre a vida e a morte. Atuar em uma comédia de humor negro interpretando um morto e passar um dia inteiro dentro de um caixão lhe pareceu uma boa maneira de exorcisar o trauma (levantar e ir embora no final do dia, então, melhor ainda).

Mais coincidências: o genro do falecido (no filme) tinha ido ao velório do sogro (na vida real) algumas semanas antes da rodagem. Ele queria fazer qualquer papel, menos o de genro. Só depois fomos entender por quê.

Já o Mauricio se sentiu bastante à vontade interpretando o bebum transgressor e sem noção que, entre outras coisas, passa a mão na bunda da senhora mãe do morto. Neste caso, melhor que a baixaria não tenha qualquer conexão com a realidade.


***


Outra: a amante do morto, que no filme está grávida do sexto filho, decidiu encarnar pra valer seu personagem e saiu de casa caracterizada de gestante. Alisou a barriga (isto é, o travesseiro), colocou mão nas costas, fez cara de sofrimento e se deu bem. Ganhou lugar no ônibus. 

E o que é melhor: aceitou.

And the Oscar goes to...




by Oscar Izquierdo

9.10.08

Em breve num cinema perto de você

Ainda é só o teaser, mas já dá pra ter uma idéia da nova estética criada pela produtora Bollo Fictions: el cutremetrage. El cutremetrage é um curta-metragem cutre ("fuleiro", "chinelo"), que tem o objetivo de, se não agradar ao público, pelo menos fazer a equipe se divertir.

O estilo cutre foi criado ao acaso, após fuga em massa de seus produtores, diretores de arte, figurinistas, iluminadores e continuístas dois dias antes da rodagem. Por sorte, os atores e a câmera ficaram. Assim nasceu a Bollo Fictions: com os que restaram.

Quem assiste a um cutremetrage pode achá-lo de um amadorismo vergonhoso, mas a verdade é que até algo amador dá trabalho de fazer. Achar um lugar pra rodar, reunir 13 atores (dentre eles uma senhora de 80 anos), além de um caixão de verdade, uma câmera decente, um microfone que funcione e pelo menos dois focos de luz...

Bom, mas ainda é só teaser. Em breve eu mostro o resto e falo mais.




by Oscar Izquierdo

26.9.08

Pequeno manual de autoconhecimento para turistas

Todo mundo pensa que não paga vale de turista. Que viaja por aí sem ser notado, mesclado com a multidão. Que só porque não usa camisa floreada, câmera pendurada no pescoço e sandália de apóstolo não se encaixa no perfil. Essa lista tem o objetivo de provar que, por mais cool que se queira parecer, basta viajar para pagar mico de turista. Atire o primeiro Guia 4 Rodas quem nunca praticou nenhuma das ações listadas abaixo.

1. Abrir mapa no meio da rua. Você passou uma semana estudando o mapa da cidade, sabe de cor os pontos turísticos e todas as ruas que levam até eles. Ainda assim, não há dúvida: você vai se perder. É chegado o momento tão temido por todo turista cool, o de abrir mapa no meio da rua. Mas não seja orgulhoso. Admita que é humanamente impossível situar-se sem um mapa numa cidade que você nunca viu na vida. Tática muito comum e com alto nível de fracasso é tentar olhar o mapa sem tirá-lo da bolsa. Você desiste e, para não perder a pose, busca um canto qualquer em que possa descobrir discretamente onde diabos você está, sem dar bandeira de que está perdido. Tarde demais. Alguém já bateu no seu ombro perguntando: quenairréupiu?

2. Tirar fotos que todo mundo tira. Ser turista não é só ir aos lugares que todo mundo vai, mas acima de tudo não ter muita imaginação fotográfica. Por algum motivo misterioso, é irresistível tirar fotos de braços abertos no Cristo Redentor e apoiando a Torre de Pisa. Isso pra não citar tudo que é possível fazer com a Torre Eiffel.

3. Tirar fotos que ninguém tira. Você precisa justificar o cartão de memória de 5 Gb que comprou para a sua câmera, não é mesmo? Além do mais, só o turista acha absolutamente tudo interessante. Aquela parede descascada não é só uma parede descascada - é uma parede descascada do sul da Croácia! Mas, fique atento. Em momentos como esse, surge um personagem muito comum entre os turistas: o ladrão de idéias de fotos. Quando você guarda a câmera satisfeito, convencido de que é a única pessoa do mundo a ter feito uma foto tão criativa, olha para o lado e vê que um turista japonês acaba de roubar a sua idéia. E o que é pior, com uma câmera muito melhor do que a sua.

4. Comprar souvenir. Ser turista é também ser um pouco exibido. No fundo, no fundo, o que você pretende com aquele brinco de pena de tucano e aquela camiseta “Eu amo Porto Seguro” é provar que no feriadão você esteve mesmo na Bahia, e não em Rainha do Mar.

5. Perder a classe por causa da fome. Todo mundo sabe que praia dá uma fome do cão. Mas o turista é um sujeito cool, relax, que está acima das triviais necessidades do corpo. Cuidado. Esquecer que se tem estômago e errar no planejamento das refeições é o primeiro passo para o declínio da elegância. Depois de comer três modalidades de picolé, você sai correndo da praia com os olhos esbugalhados e entra de chinelo no primeiro restaurante metido a besta com mesa liberada que encontra (porque os mais baratos têm fila na porta). Quando você chega, todo mundo percebe o seu desespero contido, cobiçando sorrateiramente o prato alheio. Quando sai, nem se dá conta de que deixou um rastro de areia no buffet e a marca da bunda molhada na cadeira.

6. Crer piamente que o inglês é a língua universal. Você fez 4 anos de Yázigi, sabe até conjugar os verbos no pretérito mais-que-perfeito e resolve passar as férias na Europa. Desembarca na Espanha e descobre que lá há quatro línguas diferentes - e que você é que vai ter que aprender a falar o dialeto local para ser entendido. Na França, felizmente, todos sabem falar inglês - mas não querem, não gostam, não estão a fim. Sua única saída, então, é ir pra Londres - mas chegando lá é barrado na imigração, e depois de passar 18 horas numa salinha 2x2, sem comer, é deportado. Afinal, você falava muito bem o inglês e eles desconfiaram: você só podia estar buscando trabalho.

7. Ter cara de turista. Você pode não perceber, mas o seu caminhar lento, seus lábios ligeiramente abertos e sua indisfarçável curiosidade por tudo ao seu redor bastam para entregar que você é um turista. Sua expressão corada e satisfeita às 10 da manhã de uma segunda-feira, altamente contrastante com as olheiras dos trabalhadores locais, também é uma indiscutível evidência da sua vergonhosa condição de turista feliz de férias.

8. Obstaculizar o cotidiano alheio. Por mais que você se esforce para ser simpático, é preciso encarar essa dura realidade: turista incomoda. O turista exibe um desagradável comportamento que tranca ruas, tira a fluidez natural das escadas rolantes, entope saídas de metro, entradas de restaurantes, calçadas estreitas, corredores de ônibus, e é dono de uma sensibilidade artística que o enraíza em frente a obras de pintores famosos nos museus. O turista empacado e sem pressa é o pesadelo de qualquer pessoa produtiva e com horários. E ele ainda vai embora dizendo que gostou muito da cidade, mas que o povo de lá, infelizmente, é muito estressado.

18.9.08

Desde os primórdios até hoje em dia



Comentário feminino ao ver cena das tribos adversárias tentando impor seu poder a gritos em "2001, uma odisséia no espaço":

- Praticamente um Gre-Nal.


* * *



Conclusão masculina melancólica ao final de "King Kong" (suspirando e balançando a cabeça):

- A mulher vem pra bagunçar a vida do cara mesmo.

16.9.08

POA, ETC.

Querida amiga blogueira,

Em resposta ao seu ETC.:

Você fala de tudo que volta num golpe assim que o avião aterrissa. Pra mim poucas emoções se comparam a olhar pela janelinha do avião e ver ali escrito "PORTO ALEGRE". Quem nunca foi embora talvez ache que é mero sentimentalismo – mas o coração que viajou 24 horas, subiu em 3 aviões e atravessou o Oceano Atlântico só pra estar de novo em Porto Alegre tem lá suas razões.

E as razões estão lá, no portão de desembarque que você falou. Uma delas tem apenas 5 anos e vem dar os tais abraços históricos antes mesmo que eu possa recolher a bagagem. Às vezes tem até sobrinho novo que eu ainda não conhecia, veja só... Nenhum deles fala em relacionamento nem padece por amor (ainda), mas nascem, crescem, caminham, trocam dentes e chegam às suas próprias conclusões sobre as coisas com uma rapidez difícil de acompanhar. Voltar pra Porto Alegre é tentar acompanhar, nem que seja só um pouquinho...

Voltar pra Porto Alegre em novembro eu ainda não sei como é, mas logo saberei. O que sei é que é primavera, que o sítio do meu pai está cheio de flores, que a minha mãe faz aniversário e que tem Feira do Livro na praça. Eu não vivo nos trópicos como você, eu vivo é em outro hemisfério, lá onde o inverno dura 9 meses e a gente é 4 horas mais velho. Voltar pra Porto em novembro é trégua do frio, da saudade, é rejuvenecer um pouco – e ter que votar pra prefeito!

Com o passar do tempo, voltar pra Porto Alegre é não encontrar mais velhos amigos, porque eles também partiram. Ver que o coração virou tabuleiro do War, com peças espalhadas em diferentes lugares do mapa. Por sorte, alguns amigos fundamentais continuam ali – e esses a gente pode pegar, beijar, abraçar, falar, falar, falar, saber se estão se alimentando direito, se estão felizes ou entediados, se apóiam ou não a Lei Seca, qual a opinião sobre governo da Yeda e o-que-que-aconteceu-aqui-que-só-eu-não-vi.

Voltar pra Porto é abreviar tudo, é ler a Zero, andar de bici, ir no super, tomar um refri. É voltar ao começo, rever lugares da infância, ver que tudo está do mesmo jeito mas um pouquinho diferente (que nem a gente). É comer negrinho, branquinho, bergamota, brincar com os cuscos, não se atucanar e tirar 10 pila no Banco do Brasil pra beber com os amigos na Lima e Silva. É andar no meio do mato, assistir pôr-do-sol em silêncio e lembrar como, mas como família é bom...

É abraçá-los, e abraçá-los de novo, e abraçá-los mais um pouco antes de ir embora. Pois voltar pra Porto Alegre é também ter que se despedir outra vez, mais uma vez, com o mesmo nó na garganta. Você disse chorar um "bocadinho"? Pra mim poucos apertos no peito se comparam a olhar pela janela do avião, antes de decolar, sem data pra voltar, e ver ali escrito PORTO ALEGRE.

speed tiras

ja que o verao ta indo embora, e nao tem graça nenhuma verao de um mes só, aqui vao umas tirinhas enquanto nao chega o veranico de outubro.

( espera. acabam de me informar que nao havera veranico nem a pau ) aí enfraquece...

fonte: dosesdiarias.com



1.8.08

Summertime


A gente sabe que o verão chegou quando toma banho gelado e passa gelo pelo corpo e põe a cabeça no freezer e não agüenta o calor nem na sombra e começa a ver pessoas andando peladas pela rua e o termômetro marca 39 graus e a gente pensa: "só isso?".

A gente sabe que o verão chegou quando vai à praia de noite e tá todo mundo lá e a água ainda tá quente e jovens francesas alegres tomam banho seminuas de calcinhas brancas transparentes gritando: "tequila!".

A gente sabe que o verão chegou quando nenhuma bebida fica gelada o suficiente e não sente mais fome e não sente mais sono e já não sabe quando sentiu frio pela última vez e quando alguém vem fazer um carinho a gente diz: "tira essa mão quente de mim!".

A gente sabe que o verão chegou quando só sente vontade de vadiar e a pele vai ficando de um escuro estranho e as praias vão ficando superlotadas e a bunda ao lado da sua canga está tatuada com um: "Made in Colombia".

Ok, é verão. Mas, pô, "Made in Colombia" não precisava.

27.7.08

Chama o cardio

Nao vê graça na vida?
Anda cabisbaixo?
Sofrendo de retenção de líquido?

Seus problemas acabaram!

7.7.08

chama o síndico

myriam, que vive junto com a gente, fez aniversário no dia de são joão. daí que nesse dia se comemora o início do verão aqui em barcelona. nesse dia pode tudo. amanhecer na praia, pôr som alto, estourar fogos de artifício. e claro, encher o apartamento de gente. 40% brasileiros, 40% argentinos, 10% catalães e 10% de nacionalidades desconhecidas. deu briga com tanto forró e música brasileira, mas saiu o vídeo com a cara da dona da festa.

24.6.08

sonidos y ruídos



barcelona tem som por tudo. pelas ruas se veem muitos musicos tocando
e tambem muita gente de fone de ouvido. a ideia era captar alguns
desses sons e tentar encaixar num documental.

super amador mas feito com carinho. :]]!

que disfruteis!
un saludo!

5.6.08

Hay que salir

Acabam de publicar um vídeo meu, chamado "Hay que salir", num site bem legal, o Barcelona Visió.

Dá pra assistir com boa qualidade lá, em "Vídeos enviats" - "12 últims enviats".

Detalhe: eu não autorizei, mas catalanizaram o título para "Cal sortir".

Dá pra assistir com péssima qualidade aqui também (YouTube naja!).


25.5.08

12.5.08

joga bonito

semana passada se viu algo curioso por aqui.
na espanha quando um time se consagra campeao, é recebido com um corredor de palmas antes das partidas até a última rodada do campeonato. e coube justamente ao barça essa homenagem. algo totalmente impensável no campeonato brasileiro. imaginem um corredor de jogadores do gremio batendo palmas pro colorado? ou vice-versa? totalmente impossível!

11.4.08

Encontros incríveis



Sexta-feira à noite, no Borne

Eles estavam em frente ao bar. Pareciam dois personagens de cinema mudo, com aqueles chapéus estilo marinheiro. Ela croata, ele italiano. Não falavam espanhol.

- Posso tirar uma foto de vocês?
- Claro!

(Pose. Click.)

- Vocês são brasileiros?
- Sim!
- De que parte do Brasil?
- Do sul.
- Porto Alegre?
- Sim! Não me diga que...
- Novo Hamburgo? Você conhece Novo Hamburgo?
- Sim! Não me diga que...

A croata me abraçava, emocionada. Alguém em Barcelona conhecia Novo Hamburgo.


***


Quarta-feira à tarde, na Universidade

Primeiro dia de aula de Cinema e Pintura. A professora pergunta:
- Alguém aqui tem problema com o idioma? Todo mundo entende o catalão?

Um rapaz levanta a mão.
- Mais ou menos, professora. Não entendi nada na aula do Jordi Balló ontem.

A professora sorri.
- Ah, mas você... Não quer que eu fale português, não é?

Fiquei intrigada. O cara falava espanhol com sotaque francês. O que o português tinha a ver com isso?

- Você fala português?
- Sim, sou brasileiro.
- Sério? Eu também!
- De onde? Porto Alegre?
- Sim! Não me diga que...
- Eu também! Eu também!

Levantou as mãos pro céu e gritou "Cidade Baixa!". Eu revidei com um "Belém Novo!".

Estávamos um em cada canto da sala, e os catalães nos olhavam. Apavorados.


***


Terça-feira à noite, na Pizza del Born

Garçom argentino:
- Você é brasileira, não? Elas também.

Apontou para as três meninas loiras sentadas ao meu lado, no balcão do bar.
- E trabalham pra Xuxa. São Paquitas.

As meninas riram, faceiras. Uma era baiana, outra paranaense, outra paulista. A baiana, com um ar blasé, deslizou uma moeda de 10 centavos de real até mim e disse:
- Toma. Pra você, quando for ao Brasil.
- Ah, obrigada. Mas não vou voltar tão cedo.

Devolvi a moeda. Ela insistiu:
- Eu muito menos. Quero essa moeda não. Atrasa a vida.

Eu incrédula:
- E você dá pra mim???

A moeda ficou lá, nos olhando. A baiana, a contragosto, colocou na carteira de novo.


***


Quinta-feira à tarde, em Santa Coloma

- Quer dizer então que vocês são gaúchos?
- Sim, você também?
- Não, sou de Brasília, mas moro em Porto Alegre desde pequeninha.
- Ah, bacana.
- Mais ou menos. Sofri muito preconceito lá. Na escola, eu não podia abrir a boca que ficavam tirando sarro do meu sotaque.
- Ah, é? Tu vê. Crianças, né? São cruéis.

Mudar de assunto. Urgente.

- Mas então você está voltando para Porto Alegre?
- Sim. Não gostei de Barcelona, sabe? Não gostei da comida. Não gostei da qualidade de vida. Não gostei dos catalães. São fechados, preconceituosos. E vocês não podem reclamar porque são iguais.
- Mas é você que está reclamando!


***


Moral da(s) história(s):
1. Todos os designers de sapatos do mundo já foram a Novo Hamburgo.
2. Gaúchos que moram em Paris falam espanhol com sotaque francês, mas português sem sotaque.
3. Se uma baiana loira, de chapinha e lentes de contato lhe oferecer uma moeda de 10 centavos, não aceite. Ela está querendo atrasar a sua vida.
4. Não entendo quem reclama dos gaúchos. Morei 29 anos no Rio Grande do Sul e nunca ninguém tirou sarro do meu sotaque.

5.3.08

Uma questão de bom senso

Pessoas de bom senso não vão morar fora do país.
Em outro continente.
Em outro hemisfério.
Longe da família.
Dos seus livros.
Dos seus móveis.
Das suas fotos.
Do seu carro.
Do seu cachorro.
Do seu salário.
Do seu astrólogo.
Da sua psicóloga.
Da sua lama budista.
Da sua ginecologista.
Do seu gerente do Banco do Brasil.
Do seu diploma da Ulbra.
Do programa de fidelidade da Livraria Cultura.
Do portfólio com peças premiadas no Salão da Propaganda de 1999.
Da avó de 80 anos.
Da sobrinha de 5.
Do sobrinho de meses.
Das amizades de longa data.
Quem tem bom senso assiste GNT e bebe guaraná Antarctica.
Não deixa de falar a própria língua pra falar outra.
Não paga aluguel em euros.
Não mora com estranhos.
Não sobe em aviões.
Nunca viaja.
Quem tem bom senso não põe nem o nariz pra fora de casa.

18.2.08

greve irritante

aqui os motoristas de onibus estao fazendo uma greve
a conta-gotas. de tempos em tempos tiram uma parte
da frota de circulaçao e fazem uma operaçao tartaruga/torturante.
estao pedindo algo como 250€ de aumento
+ 2 dias de folga por semana.
na carris nao teriam essa moleza!

10.1.08

Pra você que está de aniversário hoje

Eu sei, não é nada original, but who cares?
Feliz aniversário, Mauriciããããão.