24.12.07

Devaneios natalinos

No pasa nada é um blog esquizofrênico. Por aqui já se falou de Barcelona, Porto Alegre, amigos estrangeiros, sobrinhos brasileiros, viagens, bobagens. Nem a gente sabe mais sobre o que é esse blog. Esquizofrenia justificável, já que morar em outro lugar não é fácil, a cabeça fica um pouco aqui, um pouco lá. Pior: quando estamos lá, a cabeça está aqui; quando estamos aqui, muitas vezes a cabeça está lá. Mas não importa quanto tempo se more na Europa, a gente nunca deixa de ser tipicamente brasileiro - seja lá o que for que isso signifique.

No momento, ser brasileiro tem sido essa estranheza permanente a tudo ao nosso redor. Tem cabimento fazer frio em dezembro? Fazer 1ºC (ou menos) e não 31ºC (ou mais)? Não participar de nenhum amigo secreto contra a nossa vontade? Não ganhar cheque-presente da Renner nem pular ondinhas no ano novo? Às vésperas do primeiro natal longe dos pampas, absolutamente TUDO dá saudade (quem diria...). Pensamos em tantas coisas que fizemos uma listinha daquelas que, por mais improvável que possa parecer, estão dando saudade.


Especial de natal do Roberto Carlos. Clássico dos clássicos. Ninguém assiste, mas é bom saber que o Rei Roberto está vivo, cantando as músicas de sempre e emocionando as nossas mães.

Retrospectiva do Globo Repórter. As melhores imagens, os fatos inesquecíveis, a cobertura completa do ano, tudo logo após a novela das oito.

Chimarrão a 36ºC. Domingão sem vento, Redenção lotada, e o gaudério feliz e suado tomando chimarrão com a camiseta do Banrisul.

Décimo terceiro. Aquele alento de fim de ano que só serve pra pagar dívidas. Ou dar entrada em outras.

Receber cartão de natal do Luiz Braz. Ou de qualquer outro candidato a vereador que você nunca viu na vida.

Comercial de fim de ano do Zaffari. O filminho ultra-sentimental que faz todo mundo chorar no intervalo da novela.

Engarrafamento no Praia de Belas. Em hipótese alguma haverá vaga no subsolo, então você terá que subir aquela angustiante rampa em caracol lentamente, arrancando o carro várias vezes, apagando algumas, e ao chegar lá em cima constatar que também não há vagas.

Papai Noel de Shopping. Ponto máximo na carreira de todo Papai Noel. O sujeito que já suou na Rua da Praia, fez sucesso no Hipo Fábricas e foi promovido ao Centro Comercial João Pessoa hoje desfruta de seu status trabalhando sentado, no conforto de um ar-condicionado, com crianças de até 40kg no colo, puxando sua barba pra ver se é de verdade. Um verdadeiro herói.

Peru com guaraná quente na ceia de natal. O desafio aqui está em ser rápido pra conseguir uma das coxas e um copo de vidro.

Ganhar cheque-presente da Renner e vale-CD da Banana Records. Dois clássicos dos presentes natalinos sem imaginação. Todo mundo já deu ou recebeu algum.

Destrocar presente dia 26. A maneira mais rápida de se livrar daquela camisa de flanela xadrez estilo lenhador canadense ou daquele CD da Rosa Tattooada.

Contratações da dupla gre-nal para o ano seguinte. Assunto amplamente abordado nas rodas de bar masculinas. A especulação começa com Riquelme e Rivaldo e termina com a contratação do Mossoró e do Ji-Paraná.

Festa de formatura. Sempre tem uma. Cerimônia interminável que derrete chapinhas e maquiagens, leva pais e avós às lágrimas e convidados menos importantes ao desespero quando descobrem que vão ter que pagar o buffet.

Festa de final de ano da firma. Evento ansiosamente esperado por todos para comer e beber de graça, ver a recepcionista de biquíni e o diretor bêbado dançando funk.

Amigo secreto. Poucas coisas podem ser tão esquisitas quanto tirar alguém que você mal conhece, dar um presente que você não escolheu e receber um que você já sabia que ia ganhar.

Ameaças de trabalhar no feriado. Todo ano rola algum tipo de terrorismo. Indiretas por e-mail, reuniões tensas, clientes insatisfeitos, chefes estressados, e tudo mais que possa arruinar o seu feriadão.

Paradinha no Quiosque da Concepa. A gente pára pra tomar uma água e fica observando a fauna: o Magal com o braço pra fora do carro e óculos na cabeça; a família inteira na Marajó verde metálica; as patricinhas de salto alto; o Unesul lotado. O Pedágio de Gravataí é o grande portal, depois dele não tem mais volta, e é quando a gente constata que uma Brasília lotada pode, sim, chegar a Tramandaí.

Litoral gaúcho. A mais improvável das saudades. O Quiosque da Concepa é só uma pequena amostra do que o litoral gaúcho é capaz. E apenas o começo. Há ainda os pardais na Estrada do Mar, o nordestão na beira da praia, a areia na cara (e no milho), os carros com o porta-malas aberto bombando os hits do verão, o engarrafamento na Paraguassú, as pessoas brigando por comida e bebida no Nacional. O horror, o horror.

BR-101. A “briói” é uma espécie de caminho das provações pra quem não desiste de ir pra Santa Catarina. A Brasília com motor superaquecido já chegou a Tramandaí e você ainda nem passou Arroio do Silva.

Pular ondinhas na virada. Uma patetice irresistível. Por algum motivo, pular ondinhas no raso é a grande emoção do réveillon. Católicos, luteranos, budistas e ateus, no ano novo todos são filhos de Iemanjá.

Ressacas sucessivas de fim de ano. A prova de fogo de qualquer fígado.

Férias de fevereiro. Depois dos gastos desmedidos de final de ano, o que era pra ser uma temporada em Búzios vira um fim de semana num camping de Araranguá ou na casa de praia dos sogros em Pinhal. Quem opta por ficar em Porto Alegre, ou é assaltado (pois só ficam os ladrões na cidade), ou morre de tédio. Ou os dois.

Eliminatórias do Garota Verão. O concurso de beleza da RBS, com sua trilha característica, ainda atrai multidões do interior do Estado a Capão da Canoa. Simplesmente hilário ver o vídeo de apresentação das candidatas: "Eu sou a Jéssica e estou representando Bom Princípio, a capital do moranguinho". Hahaha. Que saudade.

22.12.07

Melhor presente de aniversário

Simplesmente sem precedentes.
Merci, mon amour.