A história do filme se passa num velório, portanto, o encarregado de fazer as imagens do
making of foi, claro, o próprio morto. Ninguém melhor que ele, que passou o dia deitado, numa boa, sem nenhum texto pra decorar, com sua câmera escondida dentro do caixão, para dar uma filmadinha entre uma toma e outra. Barbada.
Quer dizer, mais ou menos. O cara foi xingado pela mulher, agarrado pela amante, sacudido por um bêbado, quase espancado pelo genro, tudo isso sem poder rir e tendo que controlar a respiração. Passava calor, suava, ficava corado, tinha que maquiar de novo pra ficar convincentemente pálido. Uma função.
Além do mais - e isso ficamos sabendo só no dia da rodagem - anos atrás tinha sofrido um acidente horroroso, desses de ficar entre a vida e a morte. Atuar em uma comédia de humor negro interpretando um morto e passar um dia inteiro dentro de um caixão lhe pareceu uma boa maneira de exorcisar o trauma (levantar e ir embora no final do dia, então, melhor ainda).
Mais coincidências: o genro do falecido (no filme) tinha ido ao velório do sogro (na vida real) algumas semanas antes da rodagem. Ele queria fazer qualquer papel, menos o de genro. Só depois fomos entender por quê.
Já o Mauricio se sentiu bastante à vontade interpretando o bebum transgressor e sem noção que, entre outras coisas, passa a mão na bunda da senhora mãe do morto. Neste caso, melhor que a baixaria não tenha qualquer conexão com a realidade.
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Outra: a amante do morto, que no filme está grávida do sexto filho, decidiu encarnar pra valer seu personagem e saiu de casa caracterizada de gestante. Alisou a barriga (isto é, o travesseiro), colocou mão nas costas, fez cara de sofrimento e se deu bem. Ganhou lugar no ônibus.
E o que é melhor: aceitou.